domingo, 19 de janeiro de 2014

A moeda de pé





No dia em que o Tricolor volta a campo depois das férias, estamos de certo modo apreensivos por não saber qual time e que desempenho dos comandados de Muricy podem apresentar.
O momento não reflete os áureos tempos de conquistas, mas me fazer pensar no primeiro título paulista do renascido São Paulo.
O ano era 1943, o futebol vivia os últimos dias do romantismo do amadorismo.
A equipe que havia trazido Leônidas da Silva do Rio de Janeiro ainda não tinha conquistado o estadual que sempre nos anos anteriores ficava nas mãos dos adversários.
Nesse período todos os anos antes do inicio da competição, era realizada a reunião do conselho arbitral na sede da FPF (Federação Paulista de Futebol), a reunião acabava servindo mais para a imprensa bajular os dois favoritos ao título. Reza uma das lendas (existem versões diferentes dos fatos), que durante a reunião tudo transcorreu muito bem, e após o término da mesma os dirigentes foram ao salão nobre da federação atender os jornalistas.
Para os representantes de Palmeiras e Corinthians faltava espaço para tantos microfones, todos que ali estavam queria saber qual dos dois seria o campeão daquele ano.
Em um canto da salão, um senhor de meio centenário assistia a tudo com uma paciência e educação exemplar, em determinado momento foi pedido ao senhor que se juntasse aos representantes co-irmãos. Esse senhor em uma das versões (dependendo da versão o personagem pode ser Paulo Machado de Carvalho, Cícero Pompeu, Porfírio, Monsenhor Bastos ou o presidente Décio Pacheco) era Frederico Antonio Germano Menzen, mais conhecido apenas como Frederico Menzen, que acatou o pedido dos jornalistas.
Passados mais de 30 minutos de coletiva, nenhuma pergunta era direcionada a Menzen, o assunto era apenas entre os dois favoritos, a coletiva se tornou um debate, Os dois diretores  rivais se provocavam e tentavam a todo custo vencer no grito a questão.
Em determinado momento um dos jornalistas  teve uma ideia para resolver de vez o impasse, propôs que se jogasse uma moeda para cima. Se ela caísse com a face cara voltada para cara o campeão seria o Corinthians, se desse coroa seria o Palmeiras. Todos riram muito, gostaram da iniciativa, até que um dos presentes lembrou que o representante do Tricolor estava ali de pé, aguardando tudo como um lorde.
Outro jornalista então resolveu saber de Menzen o que ele pensava de tudo aquilo:

-“E o representante do São Paulo o que acha que vai acontecer? A moeda cairá com a face voltada para a cara ou para a coroa?”

Sereno Menzen disse sem pensar muito:

-“A moeda não cairá voltada para a face cara e tampouco cairá voltada para a face coroa, a moeda cairá pela primeira vez em pé e o campeão será o São Paulo FC!”

A resposta causou surpresa, os programas eram transmitidos ao vivo para as rádios, e para todos era muito pouco provável tal fato, mas a brincadeira pegou, e foi incrementada logos após, em tom de desdém a frase ganhou um complemento, que para a Portuguesa se sagrar campeã a moeda teria que parar no ar.




O Paulista de 43 foi disputado por onze clubes, a fórmula de disputa era a de pontos corridos em dois turnos. O São Paulo pós em pratica a afirmação feita na reunião, começou a competição goleando o Comercial da capital por 4 a 1.
Ponto a ponto o trio de ferro foi subindo na tabela, o "azarão" São Paulo brigava de igual para igual.
Quis o destino que o último jogo da competição reservasse um São Paulo e Palmeiras, o jogo definira o campeão, as duas equipes foram a campo na tarde de 3 de Outubro, no Pacaembu com 42.143 pagantes.
A torcida tricolor ficou apreensiva quando o maestro Sastre saiu contundido depois de uma entrada violenta, o jogo caminhou tenso até o apito final, o 0 a 0 garantiu o título ao Mais Querido, pela segunda vez o são Paulo se tornava Campeão Paulista.
Na saída do campo o atacante do tricolor Luizinho fez questão de lembrar os repórteres:
-"Este ano a moedinha caiu de pé, Hein?".
A festa que começou dentro do campo invadiu os vestiários, o presidente do Palmeiras Hygino Pellegrini fez questão de ir até a delegação são paulina para cumprimentar os campeões de 43.
Porfírio da Paz ficou tão emocionado que não conseguiu dar sequer uma entrevista, apenas escreveu em um pedaço de papel que foi colocado no bouço de um repórter com os dizeres: "Uma grande partida em um grande dia para o clube do meu coração! Realizou-se, finalmente o meu maior desejo, que alimento desde 1935: O São Paulo conseguiu o título de campeão".


Acabava ali a hegemonia de Palmeiras e Corinthians, começa ali a história de glórias e títulos do Mais Querido. A torcida em provocação preparou um carro com uma moeda em pé que desfilou pela noite de São Paulo, a diretoria mandou confeccionar um troféu que foi entregue a cada jogador.




Esperamos agora não que a moeda caia de pé, mas que o São Paulo pense grande. Assim como Menzen pensou, que o Tricolor não seja coadjuvante, que seja o que nasceu para ser GRANDE. 

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