Amanhã é um dia a se comemorar! Faz exatamente 23 anos, que um jovem goleiro chegou ao CT da Barra Funda para uma peneira.
Dois dias antes, problemas que talvez pudessem ser um prenúncio, de que não seria a hora, de que não daria certo. No primeiro dia chegou atrasado, perdeu o treino, mas com justificativa plausível, trânsito e desconhecimento da cidade. Vinha de longe, teve outra oportunidade.
Chegou no horário na segunda vez. Não teve treino! A terceira vez não falhou, ele todo paramentado, calçando luvas Tri Star, logotipo e palmas amarelas. Nos pés, chuteiras Olimpíadas, adivinhem a cor da sola? Sim amarela!
Altair Ramos, preparador físico tirou um sarro: - Chuteira “bonita”! O garoto de 17 anos não ligou, afinal faz parte provocar o novato, Sergio Rocha aquecia o menino, o time principal treinava ali ao lado, em um intervalo o professor Gilberto Moraes grita:
Saem Zetti e Gilmar (Rinaldi), entram Marcos Antônio e... O goleiro de amarelo. De repente o garoto que acabara de sair de Sinop, estava ali, treinando com o elenco principal do São Paulo.
Ele ao mesmo tempo em que jogava, via o técnico Pablo Forlan à beira do campo, e dentro dele Mário Tílico, Antonio Carlos, Ronaldão, Cafú e Leonardo, o último marcou um gol em cima do jovem goleiro. No fim do treinamento, o garoto recebeu luvas novas da Uhlsport, e chuteiras também, um sinal da aprovação no teste.
Vocês sabem a quem me refiro! Ele ficou muitos anos na reserva de Zetti, mas um dia, sua vez chegou. O goleiro de amarelo não amarelou, conquistou praticamente todos os títulos que disputou pelo Tricolor. Deu a volta ao mundo defendendo o manto de três cores, levantou tantos troféus, que a minha memória, mesmo sendo privilegiada não alcança.
O garoto foi se tornando homem, outros passaram, ele continuou, em uma relação que às vezes como qualquer outra tinha seus maus momentos, mas ele estava lá, defendendo a meta, torcendo dentro do campo.
Com o tempo ele bateu todos os recordes, ultrapassou marcas inimagináveis para um goleiro.
Tanto na vida como no futebol, tudo tem um fim, é um ciclo infalível, o jovem goleiro envelheceu e está cansado, os reflexos apesar de bons não são os mesmos, mas não é por isso que a foto da capa da crônica trás a frase “Aposenta Rogério”, me dói o coração pensar que o momento está chegando, assim como a tristeza me incomodou por um bom tempo após a saída do meu grande ídolo Zetti.
Acredito que ele não mereça o massacre que vem recebendo do torcedor do São Paulo, por que o da mídia eu já esperava, não quero pensar em vê-lo saindo de campo vaiado (Eu não me esqueci de 2004!).
A história dele dentro do clube, é algo que possivelmente nunca mais veremos, é uma relação que não cabe mais no esporte. Ontem eu estava atrás do gol quando ele pegou a bola, mas tradicionalmente, não vejo as cobranças de pênaltis (hábito que adquiri desde o jogo contra o Rosário Central-Arg, em 2004), apenas pelo som, ou a falta dele. Percebi que ele havia errado, dentro do Sacrossanto o torcedor apoiou, gritou seu nome, mas fora muitos já o estavam atacando. Não sei se outro jogador surgirá com a cara do torcedor, com uma identificação tão forte, sei que muitos torcedores não merecem ver o M1TO dentro do campo, não sabem respeitar um ídolo, não conseguem entender que estão vendo os últimos dias de uma lenda.
Por esses torcedores peço com dor no coração, com um sentimento de perda, aposenta Rogério! Você não merece ser vidraça. Não merecesse acordar todos os dias e ser criticado por tudo, ser culpado de tudo, ser o bode expiatório. Embora eu não queira, penso que as pessoas esquecem um detalhe:
-Esquecem que você é humano.
O M1TO vai se aposentar no fim do ano, mas o texto expressa meu descontentamento com o torcedor que só conheceu o São Paulo campeão, e por essa razão picha a imagem de um grande ídolo que defende as cores do clube no coração.
Respeito a opinião de quem discorda de mim, mas peço que respeitem a minha e acima de tudo. Respeitem Rogério Ceni.
Foto: Acervo MC/Montagem: Adriano Carvalho
Adriano infelizmente esse dia vai chegar e, iremos acordar sabendo que ele não estará mais debaixo das traves. Não será ele o responsável por liderar desde os treinos, passando pelas concentrações até durante os jogos. Não vai ser mais o palestrante nas reuniões motivacionais dentro do vestiário. Não será ele o entrevistado que humildemente admite suas falhas e num ato de paternalismo chama para si a responsabilidade de derrotas sofridas por onze que jogaram mal. Dificilmente um dia veremos um capitão, passar a braçadeira para um garoto que deu o sangue, literalmente, em campo para conquistar um título antes de sua despedida. Duvido que o futebol mundial terá outro goleiro artilheiro capaz de marcar mais de 112 gols. Acredito ser impossível algum outro atleta alcançar a marca de mais de 1100 partidas por uma única equipe. Enfim, me entristeço com a reação de muitos que o criticam, mas minha alma chora muito mais por saber que daqui há alguns meses esse goleiro-artilheiro-capitão-M1TO irá se aposentar e não mais nos representará dentro de campo. Me conforta sim a possibilidade de vê-lo gerir o clube que amo, de saber que um dia poderá ser o técnico e no futuro o presidente. Até lá me resta idolatrá-lo por tudo que fez e me encher de orgulho em saber que escolheu meu time para amar. Obrigado Rogério Mucke Ceni.
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