(Foto: Gazetapress/Edição: Adriano Carvalho)
A matéria a seguir, trata de como o caso Sandro Hiroshi, desencadeou um dos processos mais vergonhosos do futebol brasileiro, que culminou com a Copa João Havelange, mesmo resumindo ao máximo o texto é longo, mas deve ser lido, para que os torcedores saibam, lembrem e aprendam sobre um triste episódio, que não deve ser esquecido.
O ano era 1999, exatamente num dia 4 de Agosto, uma quarta feira típica de futebol, o São Paulo entrou em campo para jogar contra o Botafogo-RJ, partida válida pela 3ª rodada do campeonato brasileiro. O Tricolor estava em crise após perder duas partidas consecutivas (Santos 3X2 São e Boca Júnior 5X1 São Paulo-Copa MERCOSUL), Paulo César Carpegiani, então técnico da equipe, era altamente questionado pela imprensa, torcida e por alguns jogadores do elenco, pela utilização do esquema 3-5-2 (surpresos?).
Apesar dos problemas, o São Paulo fez valer a sua força dentro do Morumbi, não tomou conhecimento do time carioca e sapecou um sonoro 6 a 1, com direito a três gols de França, um de Souza, um de Sandro Hiroshi, o primeiro com a camisa Tricolor, e fechando a conta Anderson Lima, Valdir Bigode fez o de honra para os botafoguenses.
(Imagem: Acervo Folha/Edição Adriano Carvalho)
Seriamente ameaçado pelo rebaixamento o Botafogo, avisado pelo Tocantinópolis, entra na justiça desportiva pedindo os pontos da partida. O clube carioca alegava irregularidade na inscrição do atacante Sandro Hiroshi, que era alvo de disputa jurídica entre, o Tocantinópolis e o Rio Branco de Americana, clube que vendeu o passe do atleta para o Mais Querido, por 2,5 milhões de dólares (isso mesmo dólares).
O São Paulo por sua vez, se via tranquilo, o diretor jurídico da época José Carlos Ferreira Alves, afirmava que seria impossível (coitado) o Tricolor perder os pontos, já que tinha o respaldo da CBF, Hiroshi tinha seu registro como “bloqueado”, ou seja, proibido de se transferir para outro clube enquanto a pendência jurídica não fosse resolvida. Mas não inapto para atuar pelo São Paulo.
Mas no dia 20 de outubro, o jornal Folha de são Paulo publica uma matéria bombástica, Sandro Hiroshi não era apenas um problema jurídico, também era um problema criminal, ao investigar os registros do jogador pelo seu primeiro clube, descobriu-se que o mesmo tinha falsificados seus documentos para ficar um ano mais novo.
(Imagem: Acervo Folha/Edição Adriano Carvalho)
Imediatamente vários clubes, ameaçaram pedir pontos perdidos nas partidas contra o Tricolor, e a ameaça de segunda divisão começou a ecoar pelo Morumbi. Hoje pode soar como teoria da conspiração, mas vimos isso acontecer com o São Caetano em 2004. O TJD (Tribunal de Justiça Desportiva), presidido por Sérgio Zveiter (irmão de Luiz Zveiter, aquele de 2005), teve então uma decisão inédita na história do futebol brasileiro, interpretou "bloqueado" como irregular. Com isso, valendo-se de uma versão irregular do CBDF (Código Brasileiro Disciplinar do Futebol), que a CBF alterou em 1997 sem ter poder para tal, tirou do São Paulo os três pontos, e os deu ao Botafogo, sem contar que o tribunal deu menos de 24 horas para o Tricolor se defender das acusações, e ignorou o documento de liberação, assinado pelo diretor jurídico da CBF, que atestava que a entidade autorizava o atleta a jogar.
Apesar das apelações, embasadas em provas, o Tricolor não conseguiu reverter o quadro, para piorar perdeu mais um ponto para o Internacional que, também ameaçado pelo rebaixamento usou do mesmo “expediente” para anular o empate em 2 a 2 obtido em campo.
Flamengo, Vasco, Atlético-Mg, Coritiba, Sport, entre outros, derrotados dentro das quatro linhas, começaram a se articular para rebaixar o São Paulo, mas uma ação política da Federação Paulista, junto com Michel Temer (ele mesmo o atual vice-presidente), então presidente da Câmara federal, pelo PMDB-SP, ameaçando tirar os clubes paulistas do campeonato brasileiro, e denunciar a CBF à FIFA, por utilização de jogadores “gatos” nas seleções de base, cessou as intenções maquiavélicas.
(Imagem: Acervo Folha/Edição Adriano Carvalho)
Com todo imbróglio, o Botafogo se safou do descenso, e a segunda divisão caiu no colo do Gama-DF, com o apoio do Sindicato dos Técnicos de Futebol do Distrito Federal e também, do extinto PFL (Partido da Frente Liberal) hoje DEM, o clube entrou na justiça comum para não ser rebaixado, pedindo que os pontos perdidos pelo São Paulo fossem devolvidos, à partir daí, liminares e mais liminares foram se sobrepondo, A FIFA entrou na briga e tentou punir o Gama, por ingressar na justiça comum, mas foi peitada pelo clube, e pela justiça brasileira.
Em Junho de 2000, o processo ainda transitava na justiça, o que impedia a CBF de organizar o torneio nacional. O clube dos 13 se reuniu, e decidiu com aval da Confederação Brasileira, criar a Copa João Havelange, podendo assim excluir o Gama da competição.
O Gama entrou na justiça novamente pleiteando o direito de disputar o campeonato, para não ficar sem uma competição nacional, acabaram tendo que aceitar a equipe do Distrito Federal, desde que eles retirassem os processos na justiça, essa manobra acabou colocando de uma vez só 116 clubes na mesma divisão, mas em módulos diferentes, realizando assim a maior virada de mesa da história. A tentativa de derrubar o Tricolor saiu cara a CBF, que escondeu do clube que sabia dos documentos falsos do atleta, autorizou o São Paulo a escala-lo, e mesmo assim não ficou do lado do clube no processo.
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